quarta-feira, 28 de março de 2012

Patrimônio Imaterial - Orides Rodrigues


Garimpamos as histórias de pessoas da nossa terra que, em suas vidas simples e sem sobressaltos, nos remetem ao nosso passado histórico-cultural. Histórias que nos fazem ser o povo que somos hoje. Joca d’Ávila e Cláudia Schwab


Orides Rodrigues tem 84 anos. Nasceu lá para os lados do campo do Sarapico, filho de Leonel Rodrigues e Ondina da Costa. Diz seu Orides que estudou até o quinto ano, pois era só o que havia na escola do professora Jaquinha, Jesuína Jaques de Azevedo. Seu primeiro emprego foi como caixeiro. Serviu ao Exército e foi para Jaguarão, em um vapor de Rio Grande que chamavam "Gaiola", por ser muito velho. De volta para cá, trabalhou como padeiro na padaria do Abílio Rotta. Nesta época, lembra-se, "aramaram" a Barão do Rio Branco, no trecho entre o Clube Caixeiral e a atual Deodoro, pois a rua tinha muitos buracos e quando chovia "virava um rio".

Seu Orides vive um grande amor, há mais de trinta anos: Maria José Carrasco, a Zezé, que todos o dias acompanha seu amor até a esquina, quando ele vai trabalhar. E fica ali, acenado para ele toda a vez que se vira para vê-la e esperar os beijos que a amada lhe atira da ponta dos dedos. Pois é, seu Orides tem 84 anos, e ama. E trabalha, ainda! Aposentou-se, mas já faz 20 anos que cuida do galinheiro de galinhas crioulas do Esquerdinha.

Ele e Zezé fazem um casal alegre, que gosta de música. Ataúlfo Alves, João Dias e Francisco Petrônio e Dilermando Reis (lembram do disco "Uma voz e um Violão em Serenata"?) Mas a música do casal é o pagode "Mal acostumado". É que Zezé o "mal-acostumou" ao afeto de seus acenos na esquina, e ele, a ela, com sua atenção e amor.

Quem não conhece seu Orides pelo nome, o conhece pelo guarda-chuva, eterno companheiro. Sua perna dói, e como não gosta de muletas ou bengalas, leva o guarda-chuva como apoio. E é assim, apoiado em seu guarda-chuva, que percorre as ruas de Santa Vitória, da Coxilha até o Centro, sempre tranqüilo. Aliás, o segredo da vida longa, diz nosso entrevistado, é a calmaria. Para seu Orides, é como se tudo fosse "uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo..."

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