Manifestação na coluna Patrimônio Imaterial:


            Em exposição no antigo Clube Caixeiral, sede da SECTUR, um belo trabalho dos alunos do segundo ano do curso de Turismo Binacional da FURG. O trabalho em questão é um Memorial das Nações e homenageia as etnias que compuseram e compõe a sociedade santa-vitoriense. Belos banners fazem referência aos imigrantes italianos, palestinos, holandeses, uruguaios, japoneses e portugueses em nosso município.
            Fiquei surpresa ao entrar na SECTUR. Percorro o corredor, admirando a delicadeza e dedicação dos alunos e professores. Sigo em direção à Biblioteca, procurando o resto da exposição. Descubro, desolada, que não há nada mais a ser visto. Como não? E as demais etnias que compõe a nossa cultura? Os demais povos de origem árabe: libaneses,  jordanianos, turcos, onde estão? E a raça negra, onde? Ou o negro em Santa Vitória do Palmar não deixou marcas da mãe África na cultura local, ao contrário do que aconteceu em todo o resto do continente? Não há, por acaso, em toda a nossa história figuras ilustres de pele negra? Nenhum negro que tenha colaborado com seu suor, sua sabedoria, na construção do nosso município?
            Não é a primeira vez que percebo em trabalhos escolares a exclusão escandalosa do negro de nossa realidade. Em 2005 ou 2006, talvez,  em exposição  da história de famílias tradicionais organizada pela SMED no Clube Comercial, homenagearam figuras ilustres das diversas etnias que aqui chegaram , mais cedo ou mais tarde. Nenhuma família negra havia. E a Semana dos Museus deste ano propiciou aos cidadãos santa-vitorienses, passeios guiados pelo centro histórico da cidade. O panfleto que servia de guia ao passeio fazia referência aos monumentos existentes na Praça General Andréa. Misteriosamente, não mencionava o monumento ao negro que está lá, em frente ao Theatro Independência.
            Olho a minha imagem no espelho, observo a minha volta para ver se alguém me vê. Dou boa tarde à funcionária da Secretaria. Ela responde, ainda bem. Começava a desconfiar que eu, mulher negra, cidadã de Santa Vitória do Palmar, era um ser humano invisível.
                                                   Cleusa Rodrigues