Joca e Cláudia
Ano passado postei uma foto do seu Orides no meu mural do facebook e os acessos foram tantos que criei um evento chamado "EU CONHEÇO O SEU ORIDES". Inúmeras pessoas, de todos os cantos (inclusive quem não conhecia queria conhecer)deixaram seus testemunhos cheios de carinho e admiração por esse querido senhor que povoou a infância de várias gerações de mergulhões (e visitantes), ao entregar com sua carroça, o pão nosso de cada dia, ainda nos levando para uma voltinha, nem que fosse por alguns metros, até chegar à próxima casa para a entrega. Vou colocar no meu mural. Uma belicíssima iniciativa! Álvaro Castro
Vitória Rodrigues de Rodrigues nasceu em 1928, na Coxilha. Filha do fiscal de animais Artur e da lavadeira Clotilde, estudou até a segunda série primária e aprendeu a ler e escrever. Dona Vitória é uma das leitoras desta coluna e quando leu sobre a viagem do seu Orides na Gaiola, lembrou da sua infância. Era 1947 e a pequena Vitória embarcou aqui no Porto de Santa Vitória (chegando de carroça até o vapor) e depois de uma bela viagem de doze horas, chegou a Pelotas, acompanhada do pai. De uma lembrança a outra, recorda a ida a Rio Grande, para o carnaval. Desta vez, de ônibus, pela praia. Lembra dona Vitória que no Albardão quase nunca dava para passar, e muitas vezes o ônibus tinha de dar a volta. Uma vez saiu una quinta-feira e chegou a Rio Grande no domingo... Lendo outra crônica, descobriu que gosta das mesmas músicas que o seu Luís, do Cemitério. "Oh, jardineira porque estás tão triste..." E quando lhe perguntamos que outras músicas gosta, cita os boleros e a marchinha "Aurora". E lembra dos bailes, boas e más lembranças tem dona Vitória dos bailes.
No Clube Estrela do Sul, clube que frequentava – como de resto os negros da nossa cidade, naquela época em que bem lembra, o racismo imperava ("negro não tinha vez no Comercial, no Caixeiral e no CTG", nos conta Vitória, e sua cocota nos repete, num gracioso eco, suas palavras). Bem, no Estrela do Sul muito dançou quando jovem. E do Liame Operário esteve proibida de entrar durante um ano. Recebeu em casa um cartão-comunicado, pois sua irmã, que morava em Rio Grande, namorava um branco. Nesta época já era noiva de Esídio Gonçalves Rodrigues, seu marido. Pois o noivo deixou de frequentar a sociedade também, em solidariedade à noiva. Depois de um ano Esídio recebeu um convite para retornar e levou sua Vitória de volta aos bailes. Sente-se triste de ter perdido este tempo sem frequentar o clube. Os bailes eram bons e o conjunto tinha o Jofre, no saxofone, mais o Carmelito e o Jura.
Com seu marido, teve dois filhos, Isabel e Artur Alberto. Lavadeira desde jovenzinha, quando ajudava a mãe na lida, "envelheci lavando roupa dos outros", é feliz junto ao marido pedreiro. Católicos, sempre trabalhando. A vida é boa, diz-nos Vitória. Viver da melhor maneira possível, junto aos amigos e à família, é sua receita.
Dona Vitória, antes de nos despedirnos, nos mostra orgulhosa uma carteira autografada por Getúlio Vargas, que ganhou de uma sobrinha. Seu pequeno tesouro.
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