Joca D'Avila e Cláudia Schuab
Joaquina..."eu fiz tudo prá você gostar de mim"
Tai, é com a voz afinadíssima e emocionada que Maria Joaquina Cardozo Acunha cantarola a música de Carmen Miranda, e depõe: "é das que eu mais gosto". Joaquina nasceu em Santa Vitória, em 1928, filha de uma das mulheres negras mais tradicionais de nossa região, Calistra Cabral, com o pedreiro Francisco Cardozo. "Ele construiu o hotel das Maravilhas"- diz orgulhosa. E relembra "meu avô morreu na guerra dos Saraiva". Joaquina, de família humilde e trabalhadora, foi alfabetizada pela professora Maria Ramis, seu pais viviam do fruto da terra, comiam e vendiam o que plantavam. Sempre adepta da boa música, cedo começou a frequentar os bailes, na época do Clube Estrela do Sul, que deu origem ao Liame Operário. Sobre o Liame,ela lembra que o terreno e nome do clube foram dados pela dona Naziozena Oliveira e o seu esposo, o seu Vito carroceiro, germes da tradição daquela sociedade. De baile em baile, acabou encontrando o seu futuro esposo, Alfredo Acunha, cujo romance foi marcado pelos compassos de "taí, eu fiz tudo prá você gostar de mim, oh meu bem não faz assim comigo não, você tem, você tem que me dar seu coração...". Foram tantas as emoções, que a mocinha acabou entregando o coração pro mocinho, casaram e tiveram dois filhos: Ramon Francisco e Ana Alice, ela, a menina, hoje uma professora bastante conhecida nossa, e o menino, que "já não está mais aqui..." Também destaca os maravilhosos carnavais realizados pela sociedade negra da nossa cidade, os famosos cordões, como o "Cordão D’Aurora", (e canta): "se você fosse sincera...oh oh oh oh Aurora... " Embalada pela marchinha, relembra: "A Aurora foi rainha do cordão, depois a dona Silda do seu Orlando. Lembro de um vestido cor de vinho com andorinhas brancas que ela usou...as aias eram a Apa Cardozo, a Noca do Melianinho. Esses tecidos bonitos vinham pelas chatas do Porto, das cidades grandes... Ah! outra coisa bonita daquele carnaval era a girafa, feita pelo Dominguinho. Eles faziam tantos bichos, era tão engraçado e tão bonito..." Enquanto dona Joaquina fala com tanta propriedade, a história de nossa cidade vai sendo construída na nossa imaginação. Em um novo salto no tempo, dona Joaquina lembra que gostava de "marchar" no sete de setembro, lá da Escola Maria Ramis, que era próxima à aviação. "Marchávamos até o Manoel Vicente, que então ficava onde hoje é a Obino. A gente vinha de lá, de tamanca de tábua, por causa do barro, e depois, antes de chegar trocávamos por tênis brancos dados pela prefeitura". O tempo não para e já casada e com filhos, Joaquina vai trabalhar com a família Castro, onde ficou muito amiga de dona Ida, e aprendeu várias músicas "castelhanas". A que mais gostava era uma que dona Ida sempre cantava. E canta de novo Joaquina, e nos encanta: "adiós pampa mia, adiós, me voy pa’ tierras extrañas..." E quando Joaquina canta, seus males e os nosso males espanta. Que bom podermos ouvi-la cantar assim, como num filme ou numa novela, que a vida também tem trilha sonora... "Mas de muita música eu já nem lembro mais, é que a gente trabalhou tanto que fica com a cabeça cansada...."
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