quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Patrimônio Imaterial Sia Rosa

Rosa Cabreira, que ainda não fez 100 anos, é natural de Santa Vitória, negra, semi-analfabeta, vizinha do Barracão, ali na Coxilha. Morou um tempo no Chuí e revela orgulhosa: "Estive em Montevidéu por 06 meses, e agora me cravei aqui". Casada com com João Ronaldo Pereira, confessa: "Eu não fui casada com ele", me interrompendo. E quando retruco que isso é o que menos importa, um pouco ressentida ela desabafa que seu companheiro nunca passou para o seu nome a casa, o terreno, nem água e nem luz e segundo ela, devem ter vivido juntos por mais de 50 anos, pois o filho mais velho dos 12 que tiveram, já tem uns 57 anos. Sobre sua profissão, Siá Rosinha responde: "Eu fui de tudo nesta vida, cozinheira, lavadeira, niñera, já trabalhei em granja, nas estâncias, eu era de casa e de campo, cortei arroz (com orgulho). Acredito muito em Deus, que é o nosso Pai. Ah! certa vez entrei num canal cheio de chamichunga, prá arrancá grama. Mas temos que acreditar em algo nesta vida,que é prá ter proteção, se eu falo vão dizer que sou conversadora, mas a coisa é assim." São tantos os netos, bisnetos e tataranetos, que ela já perdeu a conta. Se emociona ao relembrar os velhos tempos em que plantava e vivia da terra, trocando os alimentos com os vizinhos. Em frente a sua casa está a horta, e ao lado, o rico jardim, e diz gostar muita de rosas, é claro... Esta "rosa" mora só e à noite é acompanhada por um bisneto. Prepara suas refeições e executa todas as lidas domésticas. Numa época remota (relembra) trabalhou no posto Texaco , por "bobagem" tinha se separado do marido e foi morar na vila. Levantava às cinco horas para trabalhar. Até que um dia, ao voltar para casa, encontrou a porta arrombada. Tinha sido roubada. Emocionada, revela: "perdi tudo o que havia conseguido, fruto do meu suor".Hoje, Rosa ainda pensa em fazer negócios, mede sua propriedade com a mente e revela tudo o que precisa fazer para construir uma nova casa e recomeçar uma nova vida na Vila Brasiliano, perto de um outro filho, "prá quebrar a diária" (a rotina). Siá Rosa, adora música e embora morando do lado do Barracão, nunca desfilou no carnaval."Tenho uma alegria em assistir...ah! -se corrige – a doce Siá Rosa - já fui cara atada no carnaval...
Garimpamos as histórias de pessoas da nossa terra que, em suas vidas simples e sem sobressaltos, nos remetem ao nosso passado histórico-cultural. Histórias que nos fazem ser o povo que somos hoje. Joca d’Ávila e Cláudia Schwab

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