"Sana, sana, colita de rana..."
"...si no sana hoy, sanará mañana". "Assim mesmo eu coso, osso rendido, nervo magoado, veia sentida, carne quebrada". " Eu te benzo contra olho grosso e bruxaria". Quem nunca ouviu estas e outras rezas e cantilenas quando criança? Quem nunca levou um filho para benzer contra quebranto? Ou não colocou uma pequenina figa na roupinha do bebê?
A tradição das benzedeiras, intimamente ligada às culturas de origem africana, é forte, aqui. A mão que desenha o sinal da cruz sobre a cabeça do doente, o ramo de ervas que salpica água benta. Quem nunca ouviu falar de Siá Delfa, ou da Dona Lourdes, que além de benzedeira de mão cheia e coração grande, via o futuro no copo?
Mas hoje, a nossa benzedeira é a Dona Sulma, que Siá Delfa e Dona Lourdes certamente nos protegem de lá, do outro lado, anjos da guarda da Coxilha, abençoando-nos do céu.
Sulma Melo Correa é filha de Elvira Melo de Melo, lavadeira, e Ariolino Melo, eletricista, esta gente maravilhosa que fundou o Barracão, um verdadeiro templo do samba, do carnaval e da alegria em nossa cidade. Nasceu em 1934. Casou-se com Antônio Ercilino Rodrigues Correa, com quem teve três filhos, que lhe deram três netos. Foi doméstica durante muitos anos, morou outros tantos em Montevidéu, com familiares.
Gosta de música e de festa, mas sua música preferida é "Esta Melodia", do Jamelão ("Quando vem rompendo o dia, eu me lavanto e começo logo a cantar, esta doce melodia..."). Mas gostava mesmo de ouvir era na voz da irmã Marlene, que agora canta com os anjos no céu. E lembra dos bailes do finado Longo, os bailes da comunidade, realizados em casas de família. O seu grande amor, Antônio, conheceu em uma quermesse da igreja. Ele foi seu pajem na novena do Mês de Maria.
Dona Sulma sabe todas as benzeduras, porém não sabe como aprendeu. Simplesmente ficou sabendo. É assim. Ser benzedeira é dom, é missão. Missão que dona Sulma cumpriu sempre com respeito e dedicação, sob a proteção de São Benedito.
Dona Sulma, que São Benedito siga a amparando, sempre.
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