terça-feira, 22 de novembro de 2011

Patrimônio Imaterial

            "Camoca..."       por Joca d'Ávila e Cláudia Schwab


                  Ermelino dos Santos Correa tem 75 anos e é morador da Coxilha desde sempre. É pedreiro por profissão. Quem é Ermelino? Ermelino é o seu Camoca, do Barracão. Este, sim, todos sabem quem é. Contando a história do seu Camoca, contamos grande parte da história do samba em Santa Vitória, através da história da Escola de Samba Barracão. E com a história do Barracão, vai se tecendo a história da família Melo Corrêa, alma do Barracão, e com eles, a história da Coxilha, berço do Barracão. Mas vamos começar do início.                                                                                                                                                                                        A raiz do Barracão está em seu Dico, sogro do seu Camoca, que realizava festas, bailes em barracos na Coxilha. No carnaval, formava cordões com este povo, frequentador das festas. Estes cordões tinham girafa e bumba meu boi. O boi era Seu Dominguinhos, que no dizer do seu Camoca era “um negro sem vergonha, onde ele estava não tinha ninguém triste”. Dos bailes de pátio surgiu a idéia de fundar a escola de samba. A partir dos estatutos da Academia do Samba de Porto Alegre e com a ajuda do Cláudio Cava, foi fundado o Barracão. O time de futebol do bairro, o Piratini, foi absorvido pela escola de samba e serviu de tema do 1º desfile, que incluiu um barco chamado Piratini, como o time. No ano seguinte, o tema foi o Barracão de Zinco, com um carro alegórico que levava um barraco de onde saía inclusive fumaça pela chaminé.  O Leandrinho foi um dos pioneiros. A velha guarda era composta pela Calista, a Santa, a Vera do Pita, a Maria Gata, e tinham o respaldo, o apoio técnico da Dona Eva do Alfredo, da Dona Lurdes e da Dona Izaltina, entre outras.    O primeiro casal de porta estandarte foi o Camoca com a Marlene, o Oliveira foi o primeiro passista, a Beth Cabreira a primeira rainha da bateria. Puxadores de samba foram muitos: Adilson, Sandro, Joca D’Ávila, Volmair Acosta, Kriguer, com o Sulmar no cavaquinho.  Nos últimos anos os puxadores foram o Miltinho e a Elisângela, as filhas Dene e Shela. A Dene foi porta bandeira, a Kika Cabral, madrinha da bateria. As baianas Zezé, Ermíria, Nena Araújo. E muitos outros nomes, tantos que não dá para citar todos, mas cada um importante e inesquecível. Logo após a fundação da escola, vieram convites para viajar a várias cidades do Uruguai. E muitas viagens foram feitas nos tempos áureos do Barracão. O primeiro presidente foi o Calídio Schwanck, o atual é o Oldemar Melo, o Mano, filho do Camoca, Presidente de Honra. Hoje o Barracão começa a recobrar vida, e para isso trabalha com dedicação a famíla Melo Correa. Na sede da escola tem domingueiras todos os domingos e numa parceira com a FURG, recebem um projeto de extensão de alunos do curso de Turismo Binacional, com cursos de artesanato, teatro e expressividade e iniciante de turismo, para crianças, adolescentes e adultos da região.                                                                                                                                                                                                           Dos temas dos carnavais passados, seu Camoca destaca a homenagem a Jorge Amado, quando não só a Coxilha, mas gente de toda a comunidade santavitoriense vestiu-se como os personagens do escritor: Gabriela, Dona Flor, Vadinho, dentre outros. Outro destaque foi o tema “Velhos são os trapos”. E em todos eles, sempre tem a mão de um Melo, de um Corrêa, na composição, no figurino, na voz, nos adereços, na bateria... Afinal, foi no pátio da casa desta “família Barracão” que nasceu a escola de samba. E da escola, quantos músicos e cantores de destaque: a imortal Marlene Melo, a Dene e a Shela (herdeiras do talento da mãe), a Elizangela, o Kriguer, o Tatalo e quantos mais! E para o futuro... bem, o futuro se faz hoje, com a bateria mirim da escola, formada pelos meninos da Coxilha, Pinhos e da Vila Nova, pequenos ritmistas de quem todos nós certamente  iremos ainda muito ouvir falar.

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