terça-feira, 16 de agosto de 2011

ME LEEEVA ZÉZINHO!

Aos 70 anos faleceu o Zézinho. Piriri, camelô no Chui, amigo do Joel, ex engraxate com Zezinho sentiu grande emoção no enterro do amigo e sugere que um vereador indique o nome do Zezinho para uma rua de Santa Vitória do Palmar. A idéia precisa de apoio porque o Zezinho merece sempre ser lembrado como patrimônio imaterial da nossa comunidade. A seguir, trechos da crônica de José Vitor C. Rodrigues, já publicada neste jornal:



               Quem é? Perguntou-me o Renato, quando tentávamos fotografar a fachada do bar do Arturito. Bem, disse-lhe eu, como te explicar? Na verdade, essa pessoa é importantíssima para qualquer vitoriense- de- fato... é o Zézinho!... mas vamos chamá-lo. Acho que não ficará brabo se tirares umas fotos dele, aliás, parece que não é por acaso, este encontro. Como levar uma imagem boa de Santa Vitória sem nela estar incluída o Zézinho? — Oi Zézinho, como vais, tchê? Lembras de mim, bem, vou dar-te uma pista, morei muitos anos nesta mesma rua, ali ao lado do Maceira...

— zzzzz... tu não és o Azebita, filho do Carlos e da Ivete, irmão do maninho?
 — Matou! Acertou na mosca!! Pois este é o Zézinho, Renato, e fui contando e relembrando coisas, nós três juntos, e que o Zézinho tinha um grande valor, e que o conheci guri, quando enchia as nossas caixas-d’água e da vizinhança toda, ganhando uns trocados para ajudar no sustento da sua família, que era simpático e todos gostavam muito dele, tanto que nos seus 50 anos de idade a cidade fez-lhe uma festa. O Zé, então, aproveitou e nos falou dela, do Clube Caixeiral e assim por diante. Ao nos despedirmos do Zézinho, ele falou-me assim:
 — Bem, tchê, fazia tempos que não me vias, não é verdade?... Mas fazia tempos mesmo!... Sim, e vais passar quanto tempo daqui pra diante sem me ver?... Bem, é que vais me dar uma gorjeta, é claro, então tem que ser muito boa, vê bem, faz a conta, por todos os meus aniversários de todos esses anos e todas as páscoas, iiih e todos os natais, os fins de ano!... Disse-me o Renato, bem perto do ouvido, "Esse, de louco não tem nada!" Ao nos despedirmos do Zézinho ele fez com que prometêssemos mandar-lhe as fotos e qualquer reportagem que saísse, melhor ainda se fosse um livro. Ficou impossível, a partir desse momento, não contar para o Renato algumas do Zézinho. Na verdade, dizia eu, vai ver até que tem muito folclore nessas histórias todas do Zézinho, é aquele negócio de que quem conta um conto aumenta um ponto... Mas o certo é que o Zézinho era meio aéreo e levado ao mesmo tempo. A Dona Janir do Oscar Rodrigues, por exemplo, havia feito um bolo, um bolo de aniversário, compreendes, para uma de suas filhas, e pôs o dito cujo a secar no murinho na frente de sua casa, defronte a praça general Andréa. Há alguns anos atrás, aqui na cidade, isso não era nenhum absurdo, todos se conheciam, e quando a Dona Janir foi buscar o bolo ele havia sumido. Procura daqui e dali, o bolo já havia sido comido pelo Zézinho, o autor da festa, juntamente com alguns amigos (engraxates) no centro da praça.
 — Mas Zézinho, como pudeste fazer isso!... Somos tão amigos, aonde a consideração e tal e coisa...
— É verdade! Dona Janir, eu entendo a senhora, isso foi mesmo uma barbaridade, como é que eu pude fazer isso? Mas eu lhe conto, aquele bolo ali, sozinho, eu passei uma vez, duas, pra lá e pra cá, ninguém aparecia e então o bolo começou a me dizer: me leeeva Zézinho, me leeeva Zézinho... Como é que eu ia resistir a isso? O "me leva Zézinho" ficou famoso na cidade e com essa história o Zézinho mais e mais foi ganhando fama. Parece que andaram acontecendo alguns outros "me leva Zézinho", um deles com os cofrinhos da igreja matriz (os gazofiláceos), até que a turma resolveu engrossar com o Zé e ele sentiu que essa do "me leva" não estava colando mais e certo porque aprendeu igualmente o inconveniente desse procedimento. Mas o Zézinho era, melhor, é assim, emoção pura e coração caloroso. Muitas vezes eu presenciei cenas semelhantes, principalmente na casa da tia Palmira, aonde ele trabalhava diariamente enchendo as caixas-d’água. Quem comandava os trabalhos do Zézinho era a tia Tetê, esposa do Chico Rotta, mãe do Capincho e da Maria Teresa, e em muitos dias o Zézinho entrava pelos pátios e já ia avisando: "hoje eu não tô bom, tô atacado. Acho melhor mesmo eu ir embora, imagine se eu pegar aquilo ali que tá me chamando? A Dona Tetê me mata! Ah tentação!" E a tia Tetê, que ouvia as perorações do Zézinho lá dentro da casa, já lhe dava uns gritos: "Tu não te bobeia Zézinho, eu tô escutando tudo!" A cidade inteira adotou o Zézinho como mascote; um tipo especial, alegre, bem humorado, amigão de todos. Um dos fatores de equilíbrio da cidade

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